A professora Renata Moura dos Santos, da EMEI Parque Bologne, no Jardim Ângela, zona sul da capital, é uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10, o mais importante reconhecimento da educação básica no país. Renata foi premiada no eixo Direitos Humanos, com o projeto “Pra ver se me enxergo”, uma iniciativa que valoriza a identidade, o território e a diversidade étnico-racial entre as crianças da rede municipal.
A cerimônia de premiação ocorreu na terça-feira (28) e reuniu educadores de todo o Brasil. “Estou muito feliz com o prêmio. Me sinto honrada em representar a nossa Rede Municipal de Ensino. Foi uma noite muito emocionante, linda e repleta de aprendizados. Levar o trabalho que desenvolvi para que as pessoas conhecessem foi uma experiência única, que ficará guardada na memória”, celebrou Renata.
Conhecido como o “Oscar da Educação Brasileira”, o prêmio é o único do país associado ao Global Teacher Prize. Criado em 1998 pela Fundação Victor Civita e atualmente organizado pelo Instituto Somos, o Educador Nota 10 reconhece professores e gestores escolares que transformam realidades e inspiram comunidades escolares por meio de projetos inovadores e alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Um olhar de pertencimento
O projeto “Pra ver se me enxergo” nasceu de uma inquietação da professora diante do modo como as crianças viam a si mesmas e o lugar onde vivem. “As crianças usavam a palavra ‘favela’ como se fosse algo ruim. Isso nos fez pensar: como ajudá-las a se verem com orgulho de quem são e do lugar onde vivem?”, relembra Renata.
Com o apoio da professora Naiany Ferreira, a iniciativa envolveu atividades que apresentaram às turmas referências de artistas negros e periféricos, como Marcelino Melo, Otaviano Júnior e Angélica Dass, fortalecendo o sentimento de pertencimento e orgulho das crianças em relação à sua origem e comunidade.
A segunda etapa do projeto mergulhou na valorização da identidade por meio da obra “Humanae”, da fotógrafa Angélica Dass. As crianças realizaram autorretratos, fotografaram colegas e criaram um painel coletivo com a “paleta de cores do Bologne”, celebrando a diversidade presente na comunidade escolar.
Literatura, arte e representatividade
O projeto também explorou livros infantis que ampliam a representatividade e ajudam na construção de uma autoimagem positiva, como “Amoras”, “Amor de Cabelo”, “Meu Crespo de Rainha”, “Pequeno Príncipe Preto”, “Tayo em Quadrinhos” e “Princesas Negras”. Essas leituras possibilitaram às crianças se verem nas histórias, reconhecerem suas raízes e compreenderem a beleza da diversidade.
A combinação entre arte, fotografia e literatura tornou a experiência pedagógica mais rica e significativa, impactando diretamente mais de 100 crianças e reverberando para além dos muros da escola — entre famílias, comunidade e outros profissionais da educação.
Raízes e transformação
Mulher, negra e nordestina, Renata cresceu na mesma região onde hoje atua como professora. Foi aluna da escola pública e a primeira da família a ingressar na universidade. “Voltar para o meu território como educadora é uma forma de reparação. Me reconheço nas crianças e tento devolver a elas o que nem sempre me foi garantido: pertencimento, visibilidade e orgulho de ser quem somos”, afirma.
O reconhecimento nacional reforça o papel da educação pública paulistana como espaço de transformação, acolhimento e valorização da diversidade — onde cada criança pode, de fato, se enxergar com orgulho.