Secretaria Municipal da Saúde

Sábado, 18 de Outubro de 2025 | Horário: 11:00
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Doutor em sociologia, Júlio comemora seu primeiro Dia do Médico

Com passagem pela Sorbonne, ele fez medicina e hoje integra a equipe de Estratégia Saúde da Família da UBS Cantinho do Céu, na zona sul da capital
A imagem mostra um profissional de saúde de pé, vestindo jaleco branco e estetoscópio no pescoço. Ele está sorridente e usa óculos. No crachá preso ao jaleco, é possível ler “Dr. Júlio Ruas”.  Ao fundo, há um painel com cartazes informativos e comunicados sobre saúde pública, fixado na parede de uma unidade identificada como UBS Cantinho do Céu, administrada pela Prefeitura de São Paulo. O ambiente parece ser a área de espera da unidade, com cadeiras pretas dispostas no local. A cena transmite um clima de atendimento humanizado e de atuação médica em uma unidade básica de saúde da rede municipal.

Filho de uma professora de história e um empresário, Julio Cesar Ruas Abreu Filho, 39 anos, nasceu em Montes Claros, norte de Minas Gerais, cidade do músico Beto Guedes e do antropólogo Darcy Ribeiro. 

A paixão pela sociologia nasceu da leitura de autores brasileiros, dentre eles o seu conterrâneo ilustre. “Quando li ‘O Povo Brasileiro’, do Darcy Ribeiro, eu me encantei com o livro e falei: ‘É sobre isso que eu quero estudar, eu quero entender mais essa questão do Brasil, da desigualdade social’”, conta, lembrando que Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre também marcaram seu percurso, sempre atravessado pelo interesse em compreender o país.

Foi assim que aos 18 anos, Julio deixou sua terra natal para estudar. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2012, e três anos depois concluiu o mestrado em Sociologia na mesma universidade. E em 2021 tornou-se doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante o doutoramento, também passou seis meses na Sorbonne, em Paris, onde foi pesquisador visitante nas áreas de Sociologia e Filosofia com ênfase nas relações de trabalho, lazer e disponibilidade de tempo. 

E foi justamente no final do doutorado que ele começou a questionar os caminhos de carreira que trilharia como sociólogo.  “Por mais que o conhecimento da sociologia seja deslumbrante, e eu ame estudar, faltava um pouco de senso prático. Estaria muito restrito à vida acadêmica, me tornar um professor, seguir como pesquisador. Na medicina eu vi a chance de ter uma vida mais prática, pois o conhecimento médico tem uma utilidade que é muito evidente, é muito palpável o que um médico pode fazer”, comenta Julio, que viu na mudança de carreira a possibilidade de impactar de uma forma mais prática na vida das pessoas. “Eu posso não mudar a sociedade, mas consigo mudar a vida de uma pessoa de um jeito bastante efetivo com a medicina.”

Já em São Paulo, Julio ingressou em Medicina na Faculdade das Américas (FAM) em 2020, no mesmo período em que concluía sua tese de doutorado. “Meu primeiro ano de medicina e o último de doutorado foram ao mesmo tempo, e eram conhecimentos muito diferentes: estudava Foucault e, ao mesmo tempo, bioquímica.”

Além disso, a pandemia de Covid-19 coincidiu com sua chegada à capital paulista. Ele recorda o impacto na saúde mental coletiva: “A pandemia ajudou a quebrar o preconceito em relação ao cuidado com a saúde mental, as pessoas viram que esta questão não é frescura; também mostrou a possibilidade da telemedicina, de fazer a medicina à distância, ampliar os recursos terapêuticos.”

Ao longo do curso de medicina, Julio acabou se decidindo pela atenção primária, onde enxerga mais pontos de contato com sua primeira formação: “A medicina da família talvez seja a que é mais próxima da sociologia”, teoriza ele, que celebra seu primeiro Dia do Médico como membro da equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) Cantinho do Céu, na zona sul da capital. Lá, ele se divide entre a rotina de atendimentos e a vida familiar, ao lado do irmão, que também é médico, e dos sobrinhos pequenos. Já os pais continuam em Montes Claros.

No exercício da medicina, o médico e sociólogo rapidamente reconheceu no bairro onde atua características que refletem uma realidade comum em várias regiões do país, marcada por desigualdades cuja superação é essencial para o avanço da saúde e da qualidade de vida. Por outro lado, Julio se diz impressionado com a rede pública de saúde. Uma coisa que me surpreendeu muito foi a capilaridade do SUS, como ele consegue chegar em áreas que outros serviços de saúde não chegam”, destaca. 

O médico também elogia a diversidade das equipes multiprofissionais e a grandiosidade do sistema: “Pouquíssimos países no mundo têm uma estrutura gratuita tão grande e tão integral quanto o SUS. É um direito que a gente tem que ter orgulho de ter conquistado”, diz o jovem médico de família com doutorado em sociedade.

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